Todos temos aquele
vizinho do andar de cima que parece fazer aula de sapateado ou que tenta imitar
a Daiane dos Santos e dar o triplo carpado twist
na hora que você quer dormir.
Ou aquele vizinho que tem
um cachorro que se acha o próprio Pavarotti e passa as noites ensaiando pra
cantar na ópera.
Enfim, conviver com as
diferenças e os costumes esquisitos de outras pessoas é complicado e vamos
convir que se você sofre com o seu vizinho, você com certeza também já fez
algum deles sofrer.
O post de hoje é o início de uma nova fase da Série Vizinhos que
incluirá também alguns vídeos e vários outros assuntos interessantes, inclusive
os que me pediram nos comentários do blog e do JusBrasil (demorei, mas não
esqueci de vocês).
Hoje vou mostrar 12 passos
para resolver os problemas com vizinhos sem recorrer ao Judiciário.
Acho importante esse tipo
de iniciativa porque se tem uma coisa que o brasileiro tem que aprender é a
resolver seus próprios problemas, além de conviver respeitosamente para evitar
que esses problemas surjam.
Vamos aos 12 passos.
1)
Se acalmar
Antes de tudo, é
necessário se acalmar, porque não adianta tentar resolver um problema de “cabeça”
quente.
Você já percebeu que quanto
está atrasado e tenta fazer as coisas o mais rápido possível, aí mesmo é que as
coisas demoram?
Pois bem, da mesma forma
que se apressar não ajuda, brigar também não.
Minha mãe sempre me
ensinou que muitas discussões você vence ficando calado, porque no fim acaba se
preservando de um estresse e desgaste emocional desnecessários.
Brigar com o seu vizinho,
xingá-lo, tentar se vingar fazendo a mesma coisa, quebrar a cara dele ou
qualquer uma dessas coisas que você já fez ou teve vontade de fazer só
contribuem para três coisas: aumentar o estresse dos dois, reduzir a
possibilidade de um acordo extrajudicial e elevar as chances de um longo
processo na Justiça.
Então, antes de seguir adiante,
tenha certeza de estar calmo, faça uma oração, respire fundo e conte até 10.
2)
Calcular o prejuízo
Você precisa calcular o dano
que aquele problema com o vizinho está te causando, mesmo que isso não resulte
diretamente em um valor monetário.
Por exemplo, se o filho do
vizinho arranhou o seu carro, você tem um prejuízo de R$3.000,00, que é a
estimativa do preço da pintura.
Se o vizinho costuma
fazer festas na sexta-feira até 3h da manhã e você dorme às 22h, seu prejuízo é
de 5h de sono.
Nem sempre será possível
chegar a um número, mas o importante é você ter na ponta língua os efeitos
negativos da conduta do vizinho, pois cada um deles é um argumento que poderá
ser utilizado para convencê-lo.
A ideia de chegar a um
número é permitir que o vizinho veja com mais facilidade o prejuízo que ele
está causando, visto que muitas vezes ele nem tem noção disso.
Como diz o ditado pimenta
nos olhos dos outros é refresco.
3)
Avaliar o custo-benefício
Uma vez calculado o
prejuízo, você mesmo tem que avaliar o custo-benefício de tentar solucionar
esse problema e acabar gerando outro.
Um conflito entre vizinhos
gasta tempo, paciência e dinheiro e apenas deixar pra lá talvez seja a melhor
opção.
Só você é que poderá
fazer essa avaliação e ver até onde pretende ir para resolver o problema: você
seguiria esses 12 passos? Contrataria um advogado? Chamaria a polícia? Processaria
o vizinho?
Após decidir se vai adiante
e até onde vai, tenha em mente a seguinte sequência:
a) Solução negocial
própria
b) Solução administrativa
c) Solução negocial com
auxílio de advogado
d) Solução processual
e) Solução policial
Do meu ponto de vista,
essa é a sequência das melhores soluções para a maioria dos casos.
Primeiro, tente resolver
você mesmo, depois busque auxílio do condomínio ou da Prefeitura, de acordo com
a norma que seu vizinho está violando, em seguida procure a ajuda de um
advogado que trabalhe com negociação e só em último caso ajuíze ação ou chame a
polícia.
4)
Identificar meios de prova
O próximo passo é
identificar meios de prova, porque tanto na negociação quanto em um eventual
processo é necessário demonstrar os fatos que você está alegando.
Na negociação, ter provas
é bom para mostrar ao vizinho um dano que ele causa sem saber e também para que
mostrar que caso ele não colabore, você tem plenas condições de ir ao
Judiciário.
Veja algumas dicas de
meios de prova interessantes:
• Fotos: São
interessantes para demonstrar infiltrações, danos à propriedade, abusos do
direito de construir etc.
• Vídeos: Podem ser
facilmente gravados com os celulares de hoje e são ótimos elementos de
convencimento por causa do apelo visual. Além disso, podem ser obtidos de
circuitos de câmera fechados muitas vezes presentes em condomínios.
• Áudios: São
interessantes principalmente para os casos de perturbação do sossego.
• Ata notarial: São registros
feitos pelo oficial do cartório das coisas que constatou in loco. Embora tenham um custo em dinheiro, são mais difíceis de
contestar que as fotos, vídeos e áudios.
• Testemunhas: São
importantes, especialmente se não forem parentes das pessoas envolvidas.
• Documentos: São mais
raros em relações entre vizinhos, mas são os melhores meios de prova,
principalmente em juízo.
5)
Localizar o responsável
Não adianta negociar com
quem não pode resolver o problema e é isso o que você deve verificar, quem pode
solucionar o problema e quem é legalmente responsável pelo prejuízo que você
está sofrendo.
Crianças, por exemplo,
não são responsáveis, mas sim seus pais ou tutores.
6)
Elaborar propostas
Antes de ir até a pessoa
com quem você vai negociar elabore propostas, sugestões de formas interessantes
de resolução do conflito.
Não faça propostas
absurdas em que você fica com tudo, se não sua negociação será frustrada.
Esteja disposto a ceder
em algumas coisas, mas tenham em mente do que você não pode e nem vai abrir
mão.
7)
Gerar empatia
Empatia é a capacidade de
compreender alguém emocionalmente e ao negociar é imprescindível saber se
colocar na posição do outro, além de fazer o outro se colocar na sua.
Sempre parta de pontos em
comum, ambos têm carro, ambos têm filhos, ambos moram ali há anos, isso
aproxima as pessoas.
Olhe nos olhos e mantenha
uma postura corporal neutra.
Se você olhar de cima pra
baixo dá a impressão de que você se acha superior e se olhar de baixo pra cima
parece que está suplicando a um superior.
Não cruze os braços,
prefira gesticular, isso ajuda na comunicação e não faz parecer que você está
entediado ou se defendendo de algo.
8)
Apresentar o problema
Apresente o problema de
forma racional e não use abordagens agressivas.
Nessa hora você deve mostrar
o prejuízo que sofreu e como isso te impacta, levando a pessoa a pensar como
ela se sentiria se fosse com ela.
9)
Sugerir soluções
Não coloque o que você
pensou como hipóteses fechadas, deixe que o seu vizinho te ajude a construir a
solução, mas não deixe de sugerir o que você pensou como possíveis saídas para
o conflito.
10)
Negociar
Cuidado com mal
entendidos, não use palavras que possam ofender a pessoa ou suas características
pessoais.
Foque no problema e na
resolução deste.
Se você perceber que vai
demorar, chame o seu vizinho para tomar um café ou algo do tipo, pois a
hospitalidade e o ato de comer juntos facilita os acordos (é por isso que até
hoje se fazem jantares de negócios).
Procure uma solução que
seja vantajosa para os dois e não só pra você.
Pense em quanto você
economiza em dinheiro e em estresse só por resolver logo o problema e não ter que levá-lo ao Judiciário.
11)
Formalizar acordo
Quando ambos chegarem a
um denominador comum, formalize o acordo.
Esse passo pode não ser
necessário se for uma situação eventual e de baixo valor, mas se for algo
envolvendo valor elevado ou situação que se repetiu bastante, prefira ter algo
escrito como forma de se garantir.
Pode ser algo digitado ou
escrito à mão, o importante é que seja legível e tenha a assinatura dos dois.
É importante lembrar que
se o documento tiver a assinatura de duas testemunhas eventual execução forçada
na Justiça será mais rápida.
Porém, se houver
resistência às testemunhas não insista nesse ponto, porque o vizinho pode tomar
como uma atitude de falta de confiança.
12)
Cumprir acordo
Lembre-se que você pode
ter uma contribuição para a existência do problema e por isso cumprir o acordo,
principalmente se ele impõe obrigações para você, é essencial para evitar mais
conflitos.
Você pode até não ser um
Lannister, mas pague suas dívidas.
Concluindo...
Ensinar as pessoas a
resolver os seus próprios problemas e estimular soluções negociais para
resolução dos conflitos mais do que um ideal agora é obrigatório, conforme art.
3º, §3º do Novo Código de Processo Civil, sendo este um importante papel de
todos os profissionais do Direito, em especial do advogado.
É importante que o
advogado tenha em mente que ele não é uma máquina de processos, mas um
solucionador de problemas e, a meu ver, métodos como a conciliação, a mediação
e a arbitragem são os meios mais eficazes tanto para distribuir a Justiça
quanto para desafogar o Judiciário.
Assim, com menos brigas e
mais diálogo, seja com vizinhos, família ou parceiros de negócios,
conseguiremos uma sociedade menos violenta e mais feliz.
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